quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PORTUGAL NECESSITA DE UM MODELO DE DESENVOLVIMENTO ASSENTE NA INOVAÇÃO E EM ALTA TECNOLOGIA

Actualmente, em particular ao nível europeu, deparamo-nos com uma das mais graves crises de que há memória na história económica. De facto, assiste-se a resgates de países como a Grécia e a Irlanda que corriam seriamente o risco de entrar em incumprimento, outros como Portugal e Espanha apresentam ainda um risco elevado e, perfilados numa lista apontada ao coração da União Europeia, fala-se agora também da Itália e Bélgica. 

De facto, as situações de cada um dos países enumerados são bastante heterogéneas entre si, vindo a propósito a conhecida frase “ Portugal não é a Grécia e a Irlanda”. E de facto, não é. Os gregos têm uma crise de finanças públicas, um Estado que há anos gasta muito mais do que aquilo que recebe, tem hoje um problema de dívida pública. A outrora apelidada de “tigre celta”, a Irlanda, em virtude da exposição do seu sistema financeiro aos “activos tóxicos” teve, claramente, o Estado que intervir no sentido de impedir um gigantesco colapso dos seus principais bancos, enfrentando um deficit público na casa dos 30%. 
O problema português, muito mais do que um deficit público relativamente elevado, é, principalmente de natureza estrutural, sobretudo devido à falta de competitividade assente em fundamentos de economia fortes e sólidos (também não se deseja assentar o crescimento em “bolhas” não sustentáveis como a Irlanda fez). De facto, a nossa economia não cresce há uma década. Importamos muito mais do que exportamos e temos mantido o nível de vida com recurso a um crescente endividamento proveniente do exterior. Isto é verdade, quer para o Estado quer, principalmente, para os privados, pelo que o principal problema do país é a sua dívida total, fruto, como se referiu, da sua falta de competitividade nas últimas duas décadas.
Esta falta de competitividade e de produtividade do pais, já é conhecida há algum tempo e para as quais têm sido propostas algumas soluções. Por um lado, alguns defendem a redução do tamanho do Estado, notando que a interferência estatal em tantos sectores da economia causa ineficiências. Outros, por sua vez, apostam antes nos multiplicadores públicos (investimentos públicos) e num choque tecnológico promovendo sectores como as energias renováveis onde Portugal pudesse conquistar novos mercados internacionais por via das exportações. 
Por último, quase todos concordam em investir na educação para aumentar as qualificações do capital humano. Aqui de facto, poderá estar a chave da questão, só que esta solução apenas produz impactos significativos numa óptica geracional, ou seja, a médio/longo prazo.
Hoje, com mais ou menos nuances, é inquestionável que a economia portuguesa procura percorrer um processo de reestruturação do seu tecido produtivo, muito por via de uma aposta em produtos de média/alta intensidade tecnológica, em contraponto, ao anterior modelo de desenvolvimento, que vigorou nas últimas décadas, baseado em produtos de baixa intensidade tecnológica e mão-de-obra intensiva.
No entanto, este processo de reestruturação, conjugado com a actual crise económica mundial têm, forçosamente, sérios impactos negativos no mercado de trabalho, impondo no curto prazo um rácio negativo de criação/destruição de postos de trabalho. De facto, é inegável que a alteração do modelo de desenvolvimento que Portugal procura solidificar, para um sistema económico assente numa maior capacidade tecnológica e de inovação tem, no curto prazo, impactos negativos já sentidos no mercado de trabalho, principalmente por via da destruição de empregos com baixos níveis de qualificação, em detrimento, de outros que exigem maiores níveis. 
Neste hiato temporal de transição do modelo económico de desenvolvimento do pais haverá, em números absolutos, maior destruição de emprego do que criação, prejudicando, naturalmente, os menos qualificados e promovendo (embora não de forma proporcional) os mais qualificados profissionalmente. 
E aqui, surge um difícil problema contraditório: no curto prazo, não são expectáveis, potenciais melhorias na redução das taxas de desemprego, antes pelo contrário, situação que por sua vez induz a um maior esforço financeiro por parte de um Estado que necessita, cada vez mais de gastar menos!

Renato J. Campos
Economista
Publicado na Revista Dada

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