segunda-feira, 22 de outubro de 2012


Crescimento vs austeridade!

A questão do crescimento versus austeridade assume-se, actualmente, como o principal tema de debate em Portugal e na Europa. A vertente baseada na tese da austeridade (expansionista), de inspiração liberal, tenta racionalizar a despesa na tentativa de reajuste da nossa curva de rendimentos em função da taxa de juro.

Alternativamente, os economistas de inspiração keynesiana trabalham esta mesma curva do rendimento com os eixos invertidos, ou seja, é o rendimento que influencia as taxas e não o contrário, estabelecendo uma correlação positiva natural entre emprego, consumo e crescimento.

Longe do campo de discussão académica existe, porém, uma verdade que a economia real nos dita: para criar postos de trabalho é preciso que as empresas detenham essa necessidade, ou seja, a produção (oferta) ajusta-se em função da procura, a qual advirá apenas de duas vias: do consumo interno ou do consumo externo (via exportações).

Para sustentar um potencial aumento da procura, é fundamental a aposta em dois pontos críticos: alteração da matriz produtiva para bens transaccionáveis de média/alta intensidade tecnológica com potencial de exportação e uma diminuição dos chamados custos de contexto. Neste último campo poderíamos agir, de forma inequívoca e determinada, sobre as rendas económicas de empresas monopolistas que empolam os custos variáveis de produção (a electricidade, combustíveis, etc.). Simultaneamente, poderíamos também mexer no IRC, selectivamente, concedendo taxas fiscais muito atractivas por um período significativo a investimentos que privilegiem massivamente o emprego e a produção de determinados tipos de bens transaccionáveis para exportação. Não seria uma situação de dumping fiscal, apenas uma mera equiparação ao que outros países europeus como a Holanda e a Irlanda já fazem.

Estas medidas permitiriam, em grande medida, a necessária folga orçamental que permita dosear, de forma sensata, a racionalização da despesa com o crescimento económico!



Renato J. Campos
Economista
Edição de Setembro da coluna "economia em trocos" da Revista DADA

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

UM EVENTUAL REGRESSO AO ESCUDO

Perante a actual conjuntura, decorrente da crise das dívidas soberanas que assola a Zona Euro, anda no ar a seguinte questão: como seria um eventual regresso ao escudo?
Não temos dúvidas que, num cenário de colapso do euro e/ou simplesmente de Portugal deixar o euro, haveria consequências dramáticas! Segundo vários especialistas, a desvalorização associada ao regresso ao escudo poderia variar entre 30 a 50 por cento. Em termos exemplificativos, um depósito de 100 euros no banco passaria, de um dia para o outro, em escudos, a equivaler apenas 70 ou mesmo 50 euros.
Para o sector financeiro seria também dramático em virtude do seu não acesso pleno às linhas de crédito internacionais como, inevitavelmente, as poupanças dos aforradores teriam tendência a fugir dada a natural desvalorização dos depósitos bancários. Por sua vez, nos empréstimos bancários, a sua conversão seria automática para escudos à taxa de câmbio fixada nesse dia, sendo certo que a mesma seria diferente (mais elevada dada a desvalorização da moeda) da utilizada aquando da nossa adesão ao Euro provocando imparidades negativas. Inevitavelmente, para além de uma acentuada subida das taxas de juro, a liquidação por ex: de um antigo empréstimo de 500 euros traduzir-se-ia num valor certamente muito superior a cerca de cem contos.
Em termos da nossa actual divida junto dos mercados, o seu pagamento continuaria a ser feito em Euros, o que acarretaria um esforço maior na sua liquidação.
A nível comercial, a desvalorização do escudo tornaria as nossas exportações mais competitivas mas, em contrapartida, as importações ficariam mais caras provocando um aumento da inflação.
Finalmente, em termos de nível de vida das famílias e considerando que o preço das importações subiria numa proporção inversa à desvalorização do escudo face ao euro, o nosso poder de compra poderia regredir para aproximadamente metade do actual!
Em suma, um cenário catastrófico que urge evitar!

Renato J. Campos
Publicado na Revista Dada

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A BANCA TEM DE FINANCIAR A ECONOMIA

Em altura da discussão do Orçamento de Estado para 2012, perante medidas de austeridade que deixaram os portugueses receosos e sob risco do saneamento das finanças públicas poder ter um resultado socialmente insuportável, as preocupações sobre o crescimento económico ganharam nova e merecida acuidade.
Para sair da crise, é necessário que a economia cresça e proporcione riqueza e emprego, sendo imprescindível, para tal, que a banca assegure o seu financiamento.
Contudo, decorre um braço de ferro entre a banca, a “troika” e o governo português em torno da capitalização dos bancos, sendo inevitável que os accionistas e/ou o Estado terão que, rapidamente, injectar capitais no nosso sistema financeiro. A grande questão é quem e em que condições! Ou a ajuda á banca nacional decorre por via da sua parcial nacionalização ou, alternativamente, por via da ajuda financeira aos principais devedores da banca (empresas públicas, autarquias e a Madeira) que poderiam assim amortizar grande parte das suas dívidas e, num sistema de vasos comunicantes, permitir que os Bancos libertassem recursos para os agentes privados.
Hoje os bancos não têm liquidez suficiente para continuarem a conceder novos créditos e a “troika” insiste que estes têm de recorrer à linha de crédito de € 12 mil milhões para se financiar mas, ao mesmo tempo, forçam os Bancos a reduzir o rácio crédito/depósito de 150% para 120%. Ou seja, só poderão conceder empréstimos em mais 20% do valor dos depósitos que cativam. Em simultâneo, exigem que os Bancos elevem os seus capitais próprios.
Perspectiva-se, na linha do horizonte, perigosas ameaças de um colapso do sistema financeiro europeu. Importa pois, que sejam tomadas medidas concretas para muscular o sistema financeiro português e consequentemente, permitir que este possa voltar a financiar a economia real.
Sem financiamento não há investimento, sem este não haverá crescimento da riqueza e sem esta, as contas públicas não serão equilibradas!

Renato J. Campos
Economista
Publicado na Revista DADA

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PORTUGAL NECESSITA DE UM MODELO DE DESENVOLVIMENTO ASSENTE NA INOVAÇÃO E EM ALTA TECNOLOGIA

Actualmente, em particular ao nível europeu, deparamo-nos com uma das mais graves crises de que há memória na história económica. De facto, assiste-se a resgates de países como a Grécia e a Irlanda que corriam seriamente o risco de entrar em incumprimento, outros como Portugal e Espanha apresentam ainda um risco elevado e, perfilados numa lista apontada ao coração da União Europeia, fala-se agora também da Itália e Bélgica. 

De facto, as situações de cada um dos países enumerados são bastante heterogéneas entre si, vindo a propósito a conhecida frase “ Portugal não é a Grécia e a Irlanda”. E de facto, não é. Os gregos têm uma crise de finanças públicas, um Estado que há anos gasta muito mais do que aquilo que recebe, tem hoje um problema de dívida pública. A outrora apelidada de “tigre celta”, a Irlanda, em virtude da exposição do seu sistema financeiro aos “activos tóxicos” teve, claramente, o Estado que intervir no sentido de impedir um gigantesco colapso dos seus principais bancos, enfrentando um deficit público na casa dos 30%. 
O problema português, muito mais do que um deficit público relativamente elevado, é, principalmente de natureza estrutural, sobretudo devido à falta de competitividade assente em fundamentos de economia fortes e sólidos (também não se deseja assentar o crescimento em “bolhas” não sustentáveis como a Irlanda fez). De facto, a nossa economia não cresce há uma década. Importamos muito mais do que exportamos e temos mantido o nível de vida com recurso a um crescente endividamento proveniente do exterior. Isto é verdade, quer para o Estado quer, principalmente, para os privados, pelo que o principal problema do país é a sua dívida total, fruto, como se referiu, da sua falta de competitividade nas últimas duas décadas.
Esta falta de competitividade e de produtividade do pais, já é conhecida há algum tempo e para as quais têm sido propostas algumas soluções. Por um lado, alguns defendem a redução do tamanho do Estado, notando que a interferência estatal em tantos sectores da economia causa ineficiências. Outros, por sua vez, apostam antes nos multiplicadores públicos (investimentos públicos) e num choque tecnológico promovendo sectores como as energias renováveis onde Portugal pudesse conquistar novos mercados internacionais por via das exportações. 
Por último, quase todos concordam em investir na educação para aumentar as qualificações do capital humano. Aqui de facto, poderá estar a chave da questão, só que esta solução apenas produz impactos significativos numa óptica geracional, ou seja, a médio/longo prazo.
Hoje, com mais ou menos nuances, é inquestionável que a economia portuguesa procura percorrer um processo de reestruturação do seu tecido produtivo, muito por via de uma aposta em produtos de média/alta intensidade tecnológica, em contraponto, ao anterior modelo de desenvolvimento, que vigorou nas últimas décadas, baseado em produtos de baixa intensidade tecnológica e mão-de-obra intensiva.
No entanto, este processo de reestruturação, conjugado com a actual crise económica mundial têm, forçosamente, sérios impactos negativos no mercado de trabalho, impondo no curto prazo um rácio negativo de criação/destruição de postos de trabalho. De facto, é inegável que a alteração do modelo de desenvolvimento que Portugal procura solidificar, para um sistema económico assente numa maior capacidade tecnológica e de inovação tem, no curto prazo, impactos negativos já sentidos no mercado de trabalho, principalmente por via da destruição de empregos com baixos níveis de qualificação, em detrimento, de outros que exigem maiores níveis. 
Neste hiato temporal de transição do modelo económico de desenvolvimento do pais haverá, em números absolutos, maior destruição de emprego do que criação, prejudicando, naturalmente, os menos qualificados e promovendo (embora não de forma proporcional) os mais qualificados profissionalmente. 
E aqui, surge um difícil problema contraditório: no curto prazo, não são expectáveis, potenciais melhorias na redução das taxas de desemprego, antes pelo contrário, situação que por sua vez induz a um maior esforço financeiro por parte de um Estado que necessita, cada vez mais de gastar menos!

Renato J. Campos
Economista
Publicado na Revista Dada

Austeridade

“Austeridade” é uma das palavras de ordem que ouvimos repetidamente nos últimos tempos, tal como expressões ”menos Estado, menos despesa pública”! Contraditoriamente, porém, reclamam-se mais médicos, polícias, escolas, hospitais, estradas, protecção social, transportes públicos, ajudas às empresas, etc. Na prática, reclama-se um “Estado proteccionista” mas, paradoxalmente, todos exigem pagar cada vez menos impostos para o “alimentar”!

Ora, isto leva-nos a uma equação de difícil resolução: enquanto País, as nossas despesas são muito superiores às receitas públicas o que deriva num saldo negativo, num Deficit Público! Inevitavelmente, para cobrir esta diferença, o Estado tem que se endividar junto de financiadores externos, recorrendo aos “mercados”. O somatório acumulado dos vários deficits, deriva na chamada Divida Publica. 

Todavia, é bom lembrar que em Portugal não tem sido só o Estado a endividar-se. As famílias e empresas também tem recorrido, sistematicamente, ao endividamento, o que resulta na chamada Divida Privada, que não é mais do que o equivalente ao financiamento que o nosso sistema bancário pede ao exterior, para depois nos emprestar! 

A Divida Publica somada com a Divida Privada, origina a Divida Externa do País que, nesta altura, representa quase 225% do nosso produto interno bruto, sendo esta, a principal razão porque corremos algum risco (serio!) de termos de recorrer á ajuda do FMI e do fundo de estabilização! Mesmo que um Governo (este ou qualquer outro) consiga controlar a despesa pública, existe ainda a divida privada para nos preocupar seriamente (e aos nossos credores). Esta, aliás, é bem maior do que a do apelidado “Estado despesista”. O tal Estado que queremos mais pequeno mas a quem exigimos, constantemente, mais e melhor! 

Em suma, estamos perante um problema, não só, da sustentabilidade do Estado mas fundamentalmente, da nossa viabilidade económica enquanto pais. Irremediavelmente, teremos que passar a saber fazer mais e melhor com menos recursos! Para isso, existe apenas uma maneira de o realizar: sermos eficientes, mais produtivos, para podermos ser mais competitivos! Só assim, conseguimos uma balança comercial mais equilibrada, que proporcionará mais riqueza para o País, para depois podermos exigir que o Estado faça mais e melhor por todos nós! 


Renato J. Campos
Economista
Publicado na Revista Dada

O FUTURO DAS NOVAS TECNOLOGIAS; MOBILIDADE

O Século XX foi considerado, consensualmente, como o período do advento da Era da Informação. 
Já o Século XXI é e será, sem dúvida, o período da consolidação da mesma para novos formatos e princípios. Efectivamente, nos últimos tempos, temos assistido a importantes mudanças tecnológicas no que respeita a tecnologias da informação com que muitos de nós lidamos diariamente e que potencia, justamente, a nossa capacidade de inovar. 

Na realidade do nosso país existem, neste contexto, boas notícias! Portugal foi no conjunto da União Europeia, segundo os últimos dados de 2010, o país que mais cresceu no que respeita á inovação, em grande medida por via da uma já identificada propensão do pais para a rápida e fácil adopção de novas tecnologias. E de facto, é perceptível que cada vez mais nas nossas empresas, as vantagens competitivas são obtidas através da utilização de redes de comunicação e sistemas informáticos que inter-relacionam os diversos actores. Todavia, não é só na área empresarial que se sente tais transformações, são perceptíveis também nas nossas casas, nas escolas e nas comunidades.

Por todas estas razões, o mercado das novas tecnologias é a nível mundial, dadas as suas taxas de crescimento e abrangência, um dos mais dinâmicos de todo o espectro económico, designadamente por via de um “novo” princípio no qual também assenta, a mobilidade absoluta, um elemento chave na actual sociedade da informação por força da afirmação progressiva de quatro grandes tendências.

Em primeiro lugar, o acesso massificado à rede decorrente da disponibilização generalizada de infra-estruturas e serviços de comunicações electrónicas (Internet de banda larga, LTE, fibra óptica etc.), a preços tendencialmente competitivos. Em segundo lugar, destaca-se o crescente leque de funcionalidades que os mais recentes dispositivos móveis (Notebooks, Smartphones, Tablet’s etc.) têm vindo, evolutivamente, a apresentar. Decorrente de tais dispositivos destaca-se em terceiro lugar, a afirmação do conceito de “loja virtual” de venda de aplicações, com significativas potencialidades no que concerne á difusão de ferramentas tecnológicas inovadoras no nosso dia-a-dia e na forma como interagimos com a informação, inclusive no que concerne aos meios de comunicação social. Por fim, o ultimo factor que se salienta, é a chamada computação na “nuvem” em que dados, ficheiros e aplicações residem em servidores físicos ou virtuais, acessíveis por meio de uma rede em qualquer dos dispositivos mencionados, o que potencia a acessibilidade remota de quantidades significativas de informação. 

De facto, na actual dinâmica em que nos movemos, cada vez mais ganha maior preponderância a capacidade de obter e partilhar qualquer informação, instantaneamente, de qualquer lugar, em qualquer momento e da maneira mais eficaz, no sentido da convergência de tecnologias, de plataformas e de conteúdos. 

Ignorar ou não acompanhar esta evolução tecnológica, na crescente sociedade de informação em que nos movemos, será regredirmos, irredutivelmente, para um passado sem presente e, sobretudo, sem futuro!




Renato J. Campos
Economista
Publicado na Revista Dada

Financiamento e emprego!

Todos os dias, através dos meios de comunicação social, constatamos as enormes dificuldades de financiamento do Estado português nos mercados financeiros.

Os juros exigidos para comprar a nossa Divida, tem sido cada vez mais altos para colocações a curto prazo e a sua procura, já começa a desinteressar alguns investidores internacionais tidos como referência (Fundos Soberanos etc.) o que significa que, a “torneira” do financiamento do deficit do Estado pode fechar-se, restando apenas as soluções mais “duras” da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Com ou sem FMI, o financiamento da economia tem de ser normalizado o quanto antes, sob pena de as funções sociais do Estado e o aparelho produtivo português, público e privado, ser obrigado a forte contracção.

Mas se o financiamento do Estado é preocupante, aos olhos de muitos portugueses, é o desemprego que lhes motiva maiores preocupações. Mais de 600 mil pessoas são afectadas por este flagelo e a taxa de desemprego é de 11,2% em Janeiro de 2011!

Todavia, as duas situações, financiamento e desemprego, estão intimamente interligadas. São as dificuldades de financiamento da economia que influenciam, negativamente, o aparelho produtivo, o que acarreta menos produção e como tal, destruição de emprego. Pelo que, uma vez amenizada a questão do financiamento global do Estado, será altura de focar também todas as energias no crescimento económico do país. 

No entanto, em matéria de desemprego, existe uma área onde o Estado pode e deve ser especialmente interventivo. Além da inquietante situação dos jovens, é ainda mais preocupante arranjar soluções para os desempregados de longa duração. Cerca de 56% dos desempregados estão à procura de emprego há mais de um ano, geralmente pessoas com mais de 45 anos e com baixa formação académica e que, dificilmente, vão encontrar colocação, o que amplifica de forma assustadora o risco de pobreza e exclusão. Este é o problema mais importante e urgente e o retomar do crescimento económico poderá não o resolver por si só.

Mesmo com hipotéticas taxas de crescimento do PIB acima de 2% (as tais, que começam a ter um impacto positivo no rácio de criação de emprego), esse crescimento irá absorver, preferencialmente, os mais jovens e qualificados, deixando a descoberto uma importante franja de desempregados envelhecidos e sem qualificações. Isto, num pais que apresenta uma das mais altas taxas de envelhecimento no mundo!


Renato J. Campos
Economista
Publicado na Revista Dada

NAVEGAÇÃO À VISTA

Nos dias que correm, perante as reconhecidas dificuldades económicas que o pais atravessa, paradoxalmente, constata-se que ainda subsiste uma velha característica de alguns gestores portugueses que se julgava extinta, a chamada “gestão da navegação à vista”.

Este tipo de Gestão, descura as diversas forças envolventes externas às empresas esquecendo que, actualmente, as múltiplas decisões com que se deparam diariamente estão, muitas vezes, dependentes dos efeitos das ondas de choque macroeconómicas. 

Estes efeitos propagam-se, sem duvida, de forma incontrolável nas Economias e nos seus Sectores de Actividade, basta relembrar, os impactos nas nossas empresas dos recentes episódios relacionados com a nossa conturbada conjuntura politica ou, ainda mais importante, a situação económica de aflição que o pais atravessa, com um iminente pedido de ajuda externa, de forma a evitar a insolvência.

Sublinhada pelos exemplos anteriores, estes efeitos de contaminação, acontecem a uma velocidade cada vez maior, em economias globalizadas e muito abertas ao exterior, sendo os seus efeitos sentidos muito rapidamente no dia-a-dia das empresas, bastará para tal, relembrar as actuais dificuldades de tesouraria e de financiamento com que muitas empresas (grandes e pequenas) actualmente se deparam. 

De facto, é importante perceber o presente em toda a sua escala, como também, inevitavelmente, é fulcral para as nossas empresas minimizarem o seu risco por via de tentativas de prever o próprio futuro em termos económicos. A gestão estratégica do risco é cada vez mais uma função crítica nas empresas, a evolução dos últimos tempos fala por si!

Por estas razões é que, decididamente, a elaboração de análises de prospectiva sobre os mais diversos temas e cenários económico-sociais terá que constituir, cada vez mais, um vector incontornável à formulação de estratégias e de linhas de acção no dia-a-dia das nossas empresas. A prospectiva é, no domínio da gestão e da economia, o radar para detectar o que já partiu e que possivelmente chegará…


Renato J. Campos
Economista
Publicado na Revista Dada

Os “Eurobonds” e uma Europa Federal!

A economia europeia vê-se a braços com uma insustentável crise da dívida soberana que poderá, no curto prazo, conduzir a um aumento da divergência económica entre os seus Estados membros mais vulneráveis e num efeito de contágio, à insolvência da própria Zona Euro. De facto, os países em dificuldades, Grécia, Irlanda, Portugal e, mais recentemente, Espanha e Itália precisam, urgentemente, de se financiarem a juros mais baixos ou irão sufocar economicamente.

Por isso, a mutualização europeia da própria emissão de dívida pode ser a solução mais pragmática, gerando uma taxa de juro baixa (menos risco), permitindo que estes países coloquem as suas finanças públicas em ordem e possam lançar as bases da recuperação da economia. Para tal, seria necessária a emissão de obrigações garantidas por todos os Estados, as chamadas “Eurobonds”. Ou seja, em vez de esses Estados do euro se financiarem sozinhos nos mercados internacionais, passariam a emitir dívida em conjunto, com o risco diluído por todos e com o rating mais baixo, tendo encargos inferiores. As economias mais fortes, com rating elevado ajudariam países com rating mais baixo, uniformizando as taxas de juro nessa emissão de obrigações. Os títulos levariam o “selo de garantia” de todos os países da Zona Euro e era por eles que as receitas dos juros seriam, posteriormente, repartidos na mesma proporção do contributo de cada um.

No entanto, os “Eurobonds”, só funcionarão eficazmente num quadro de transferência de soberania dos Estados, nomeadamente, em matéria de política fiscal e orçamental que conduzirão a uma maior integração política. Ou seja, o caminhar definitivo para um modelo de Federalismo europeu, viabilizando uma União Política.

Uma nova crise mundial anda por aí! Por isso, impõe-se, de uma vez por todas, que os líderes europeus assumam medidas arrojadas e históricas que possibilitem a uma Europa Federal sustentar a sua economia.



Renato J. Campos
Economista

Publicado na Revista Dada

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Outlook de um verão perigoso!




São significativos os desafios que a economia portuguesa enfrenta, a crise internacional expôs a nossa frágil posição financeira. Para enfrentar esses desafios, procura-se avançar com reformas direccionadas para a correcção dos desequilíbrios externos e internos e que, simultaneamente, aumentem o potencial de crescimento.

Não é, porém, uma equação fácil, todos sabemos! É importante ter em conta que tais ajustamentos serão realizados num contexto externo de elevada incerteza e de riscos substanciais. Com efeito, com a recente escalada dos juros dos títulos no mercado secundário da divida soberana de Espanha e da Itália, a dúvida e o risco de contágio instalou-se na zona euro, de tal forma, que o economia alemã poderá já começar a enfraquecer nos próximos meses.

 Por sua vez a China, o “motor” do crescimento económico mundial, vive uma perigosa escalada da inflação, o que obriga as autoridades chinesas a terem forçosamente que arrefecer a economia. E se a China abranda, em conjunto com a endémica inflação indiana, o comércio internacional trava fortemente. Por fim, não bastando a situação na Zona Euro e as vulnerabilidades da China (já para não falar do Japão, afectado pelo tsunami), também os Estados Unidos poderão estar sob o risco do seu governo federal, já em Agosto, entrar em default, pois o tecto legal de endividamento esgotou em Maio...

De facto, aquela que ainda é a maior economia mundial, só no mês de Agosto terá de fazer amortizações de 500 mil milhões de dólares da sua dívida e na primeira semana do mês, estarão em jogo 87 mil milhões (mais do que o valor do resgate concedido a Portugal). É este o cenário que se está a compor para este Verão, pelo que se antevêem tempos difíceis. Resta-nos ir fazendo o que nos compete, reduzindo gastos supérfluos e tentando promover o crescimento, esperando que não esteja na linha do horizonte uma “tempestade perfeita”…

Renato J. Campos
Economista

Artigo publicado na Revista DADA